Picada de Escorpião e o Coração: Efeitos Cardiovasculares, Diagnóstico e Conduta Atualizada

Picada de Escorpião e o Coração: Efeitos, Diagnóstico e Conduta | Dr. Rafael Otsuzi

Picada de Escorpião e o Coração: Efeitos Cardiovasculares, Diagnóstico e Conduta Atualizada

Última atualização: 19 de setembro de 2025

Escorpião-amarelo, Tityus serrulatus, em posição de ataque, ilustrando o perigo da picada.

Introdução

As picadas de escorpião são emergências clínicas que vêm aumentando em prevalência no Brasil, com destaque para o Tityus serrulatus, o escorpião-amarelo. Embora a maioria dos casos seja leve, formas moderadas e graves podem desencadear complicações cardiovasculares potencialmente fatais, exigindo intervenção rápida e eficaz na sala de emergência.

Este artigo explora os efeitos da escorpionatoxina no sistema cardiovascular, fornece diretrizes clínicas baseadas em evidências e discute condutas atualizadas segundo protocolos toxicológicos e cardiológicos.

Efeitos Cardiovasculares da Picada de Escorpião

1. Mecanismo de ação

A escorpionatoxina atua principalmente no sistema nervoso autônomo, promovendo liberação massiva de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), com impacto direto e indireto sobre o coração e vasos:

  • Taquicardia
  • Hipertensão arterial
  • Pressão arterial instável em fases tardias
  • Disfunção ventricular esquerda
  • Arritmias (taquiarritmias, bradicardia, extrassístoles, bloqueios AV)

Nos casos mais graves, pode ocorrer:

  • Miocardite tóxica
  • Edema agudo de pulmão
  • Choque cardiogênico
  • Óbito

Destaque do Braunwald: Embora o livro não traga seção específica para escorpionismo, os efeitos cardiovasculares observados são compatíveis com os mecanismos descritos para hipercatecolaminemia e miocardiopatia induzida por toxinas, como ocorre em casos de feocromocitoma ou síndrome de Takotsubo.

Classificação Clínica dos Acidentes Escorpiônicos

Acidente Leve (90–93%)

Dor local imediata e intensa, hipertensão leve, taquicardia, náuseas transitórias.

Acidente Moderado

Vômitos esporádicos, sudorese, agitação, taquicardia persistente. Indicação de soro se paciente for criança < 7 anos ou se sintomas persistirem.

Acidente Grave

Vômitos intensos, broncorreia, sialorreia, bradicardia ou taquicardia com arritmias, hipo/hipertensão, edema pulmonar, insuficiência cardíaca, choque.

Exames Complementares

  • Laboratoriais: Hiperglicemia, leucocitose, hipo ou hipercalemia, aumento de CK-MB e troponina I.
  • ECG: Taqui ou bradicardia sinusal, extrassístoles ventriculares, alterações do segmento ST (supra ou infra), bloqueios AV.
  • Ecocardiograma: Hipocinesia de parede, regurgitação mitral funcional, redução da fração de ejeção (transitória).
  • RX de tórax: Aumento da área cardíaca, edema agudo de pulmão.

Tratamento e Conduta Clínica

  • Tratamento Sintomático: Alívio da dor com lidocaína 2% sem vasoconstritor ou analgésicos (dipirona).
  • Soroterapia específica: Pré-medicação com hidrocortisona, ranitidina e dexclorfeniramina.
    • Crianças com quadro moderado: 3 ampolas.
    • Adultos com quadro grave: 6 ampolas.

Atenção: O volume deve ser administrado com rigorosa monitorização, devido ao risco de evolução para choque cardiogênico. A hipocalemia é comum, mas geralmente se resolve com o tratamento específico.

Considerações para Cardiologistas e Emergencistas

  • Sempre monitorar ECG seriado em casos moderados e graves.
  • Solicitar troponina I para estratificação do risco.
  • Evitar betabloqueadores não seletivos, que podem piorar a disfunção ventricular.
  • Em casos de disfunção ventricular grave, considerar dobutamina (se choque), suporte ventilatório e UTI para vigilância hemodinâmica.

Conclusão

A picada de escorpião é uma emergência médica que pode desencadear alterações cardíacas graves, incluindo arritmias, insuficiência cardíaca e choque. A abordagem clínica deve ser rápida e baseada em critérios bem estabelecidos. O conhecimento da fisiopatologia cardiovascular envolvida é essencial para emergencistas, intensivistas e cardiologistas.

Sobre o Autor

Este artigo foi redigido e revisado pelo Dr. Rafael Otsuzi, médico com dupla especialização em Cardiologia e Clínica Médica, com formação pela USP Ribeirão Preto. Com vasta experiência em UTIs de alta complexidade, Dr. Otsuzi se dedica a fornecer informações médicas claras, precisas e baseadas em evidências científicas.

Referências

  1. Cupo P, Custódio VIC. Acidente Escorpiônico na Sala de Urgência. Revista Qualidade HC, 2017.
  2. Ministério da Saúde – Protocolo de Manejo Clínico de Escorpionismo, 2022.
  3. Zipes DP, Libby P, Bonow RO, et al. Braunwald Tratado de Doenças Cardiovasculares. 11ª ed.

Aviso Legal Importante

Este artigo possui um propósito estritamente educacional e informativo. As informações aqui contidas são baseadas em referências médicas e científicas atualizadas até a data de publicação, mas não substituem, em nenhuma hipótese, uma consulta médica individualizada.

A saúde é um assunto sério. Sintomas como os descritos aqui requerem avaliação profissional imediata. Não utilize este conteúdo para autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de acidente com escorpião ou qualquer emergência médica, procure o serviço de saúde mais próximo imediatamente.

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