Picada de Escorpião e o Coração: Efeitos Cardiovasculares, Diagnóstico e Conduta Atualizada
Última atualização: 19 de setembro de 2025

Introdução
As picadas de escorpião são emergências clínicas que vêm aumentando em prevalência no Brasil, com destaque para o Tityus serrulatus, o escorpião-amarelo. Embora a maioria dos casos seja leve, formas moderadas e graves podem desencadear complicações cardiovasculares potencialmente fatais, exigindo intervenção rápida e eficaz na sala de emergência.
Este artigo explora os efeitos da escorpionatoxina no sistema cardiovascular, fornece diretrizes clínicas baseadas em evidências e discute condutas atualizadas segundo protocolos toxicológicos e cardiológicos.
Efeitos Cardiovasculares da Picada de Escorpião
1. Mecanismo de ação
A escorpionatoxina atua principalmente no sistema nervoso autônomo, promovendo liberação massiva de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), com impacto direto e indireto sobre o coração e vasos:
- Taquicardia
- Hipertensão arterial
- Pressão arterial instável em fases tardias
- Disfunção ventricular esquerda
- Arritmias (taquiarritmias, bradicardia, extrassístoles, bloqueios AV)
Nos casos mais graves, pode ocorrer:
- Miocardite tóxica
- Edema agudo de pulmão
- Choque cardiogênico
- Óbito
Destaque do Braunwald: Embora o livro não traga seção específica para escorpionismo, os efeitos cardiovasculares observados são compatíveis com os mecanismos descritos para hipercatecolaminemia e miocardiopatia induzida por toxinas, como ocorre em casos de feocromocitoma ou síndrome de Takotsubo.

Classificação Clínica dos Acidentes Escorpiônicos
Acidente Leve (90–93%)
Dor local imediata e intensa, hipertensão leve, taquicardia, náuseas transitórias.
Acidente Moderado
Vômitos esporádicos, sudorese, agitação, taquicardia persistente. Indicação de soro se paciente for criança < 7 anos ou se sintomas persistirem.
Acidente Grave
Vômitos intensos, broncorreia, sialorreia, bradicardia ou taquicardia com arritmias, hipo/hipertensão, edema pulmonar, insuficiência cardíaca, choque.
Exames Complementares
- Laboratoriais: Hiperglicemia, leucocitose, hipo ou hipercalemia, aumento de CK-MB e troponina I.
- ECG: Taqui ou bradicardia sinusal, extrassístoles ventriculares, alterações do segmento ST (supra ou infra), bloqueios AV.
- Ecocardiograma: Hipocinesia de parede, regurgitação mitral funcional, redução da fração de ejeção (transitória).
- RX de tórax: Aumento da área cardíaca, edema agudo de pulmão.
Tratamento e Conduta Clínica
- Tratamento Sintomático: Alívio da dor com lidocaína 2% sem vasoconstritor ou analgésicos (dipirona).
- Soroterapia específica: Pré-medicação com hidrocortisona, ranitidina e dexclorfeniramina.
- Crianças com quadro moderado: 3 ampolas.
- Adultos com quadro grave: 6 ampolas.
Atenção: O volume deve ser administrado com rigorosa monitorização, devido ao risco de evolução para choque cardiogênico. A hipocalemia é comum, mas geralmente se resolve com o tratamento específico.
Considerações para Cardiologistas e Emergencistas
- Sempre monitorar ECG seriado em casos moderados e graves.
- Solicitar troponina I para estratificação do risco.
- Evitar betabloqueadores não seletivos, que podem piorar a disfunção ventricular.
- Em casos de disfunção ventricular grave, considerar dobutamina (se choque), suporte ventilatório e UTI para vigilância hemodinâmica.
Conclusão
A picada de escorpião é uma emergência médica que pode desencadear alterações cardíacas graves, incluindo arritmias, insuficiência cardíaca e choque. A abordagem clínica deve ser rápida e baseada em critérios bem estabelecidos. O conhecimento da fisiopatologia cardiovascular envolvida é essencial para emergencistas, intensivistas e cardiologistas.
Sobre o Autor
Este artigo foi redigido e revisado pelo Dr. Rafael Otsuzi, médico com dupla especialização em Cardiologia e Clínica Médica, com formação pela USP Ribeirão Preto. Com vasta experiência em UTIs de alta complexidade, Dr. Otsuzi se dedica a fornecer informações médicas claras, precisas e baseadas em evidências científicas.
Referências
- Cupo P, Custódio VIC. Acidente Escorpiônico na Sala de Urgência. Revista Qualidade HC, 2017.
- Ministério da Saúde – Protocolo de Manejo Clínico de Escorpionismo, 2022.
- Zipes DP, Libby P, Bonow RO, et al. Braunwald Tratado de Doenças Cardiovasculares. 11ª ed.
Aviso Legal Importante
Este artigo possui um propósito estritamente educacional e informativo. As informações aqui contidas são baseadas em referências médicas e científicas atualizadas até a data de publicação, mas não substituem, em nenhuma hipótese, uma consulta médica individualizada.
A saúde é um assunto sério. Sintomas como os descritos aqui requerem avaliação profissional imediata. Não utilize este conteúdo para autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de acidente com escorpião ou qualquer emergência médica, procure o serviço de saúde mais próximo imediatamente.
Precisa de uma Avaliação Cardiológica?
Agende sua teleconsulta com o Dr. Rafael Otsuzi para um atendimento especializado e seguro.
Agendar pelo WhatsApp (16) 99737-1020